O Nubank nasceu para acabar com a complexidade no sistema financeiro, e um dos pilares para que a revolução roxa aconteça é a diversidade. Por isso, em 2021 nós anunciamos o Compromisso de Diversidade e a criação do Semente Preta, nosso próprio programa de desenvolvimento destinado a startups brasileiras com fundadores e/ou lideranças negras.
O projeto busca empresas de tecnologia que gerem impacto positivo para receber o aporte financeiro em seu negócio, além de treinamentos e consultoria para ajudar no desenvolvimento da ideia.
Em parceria com a consultora de inovação do Nubank e empreendedora Monique Evelle, mais duas startups foram selecionadas, juntando-se às três primeiras, anunciadas em junho de 2021. “O que estamos fazendo com o Semente Preta é mostrar para o mercado que startups lideradas por empreendedores negros existem e são excelentes”, explica Monique.
Conheça as duas startups selecionadas na segunda rodada do fundo.
Toti Diversidade
Se você precisasse se refugiar ou migrar para outro país, como pagaria as contas? Provavelmente trabalhando com qualquer área que tivesse vagas disponíveis. Acontece que entre os mais de 57 mil refugiados que estão no Brasil, metade aponta dificuldades em entrar no mercado de trabalho, segundo pesquisa da ACNUR, agência da ONU para refugiados. Foi pensando em resolver esse problema que a Toti Diversidade surgiu, em 2016, ainda como um projeto universitário de empreendedorismo social.
“Quando falamos de refugiados e imigrantes, na maioria das vezes os empregos destinados a essas pessoas são subempregos, como se ao estar em um país elas deveriam ficar felizes com qualquer trabalho. A nossa quebra dessa lógica é poder oferecer um emprego de qualidade, possibilitando um futuro melhor para a família e para todas as pessoas que dependem desse refugiado ou imigrante.”
Caio Rodrigues, Diretor Executivo da Toti Diversidade
Junto a mais seis colegas do CEFET do Rio de Janeiro, o engenheiro mecânico Caio Rodrigues criou uma plataforma com metodologia própria para o ensino e inclusão de pessoas refugiadas no mercado de trabalho de tecnologia. A primeira turma foi formada em 2018, e depois disso o grupo decidiu se estruturar para virar um negócio de verdade.
A decisão de ligar pessoas refugiadas e migrantes a vagas em tecnologia responde a uma demanda da própria área: segundo relatórios da consultoria de RH Robert Half, há uma escassez de mão de obra especializada. Com o avanço do ambiente digital durante a pandemia, os profissionais de tecnologia estão sendo ainda mais disputados por empresas.
“A área de tecnologia é dominada por pessoas que têm acesso a ferramentas e oportunidades para estudar e ingressar nas vagas. A gente acredita que a revolução que fazemos seja não só pela democratização do ensino, mas também pela inclusão no emprego, que é o nosso principal objetivo”
Com o programa de formação em desenvolvimento totalmente gratuito para pessoas refugiadas e migrantes, a Toti também oferece apoio para que os profissionais encontrem as vagas que existem na área e consigam um emprego. Depois de passar por diversas incubadoras de startups e programas de aceleração, agora, com o aporte do fundo Semente Preta, a Toti Diversidade pretende expandir sua atuação.
“Esse investimento do Semente Preta vai ser importante para ser usado em tecnologia. Muitos dos nossos processos ainda são manuais, e agora vai ser possível formar e contratar mais pessoas. Vamos acelerar nosso desenvolvimento, e mais profissionais poderão ser conectados com as empresas parceiras da Toti”, afirma Caio. A expansão geográfica para vizinhos latinoamericanos também está nos planos. “É muito importante pra gente estar ao lado do Nubank”.
akinTec
“Quem é cria da periferia tá ligado que somos ignorados pelas grandes corporações, quando o assunto é acesso aos serviços”. A frase está no site da akinTec, startup selecionada para receber o fundo de investimento Semente Preta, do Nubank. A proximidade que a empresa tem para falar com seu público reflete a história de seu fundador, Leandro Dias.
Nascido no Jardim Brasil, um dos bairros mais violentos da periferia de São Paulo, Leandro diz ter tido a sorte de contar com uma família bem estruturada de imigrantes baianos. Proibidos de sair de casa pelos pais, por receio dos perigos do entorno, Leandro e seu irmão tomaram gosto pelo estudo e pela tecnologia. Fez um curso comunitário pré-vestibular e entrou em contato com sua identidade negra e periférica. “Isso mudou minha vida”, lembra.
Leandro foi aprovado na Universidade de São Paulo e começou a carreira em um grande banco por um processo de contratação de trainees negros. Era a segunda vez que ele havia entrado em uma agência bancária na vida. A primeira ocorreu durante uma manifestação para pedir a abertura de uma agência na favela. Dessa vez teve acesso a todos os principais executivos do alto escalão de um banco e foi mentorado na sua trajetória.
“Eu namorava de longe a área de microcrédito. Sabia que era o pior dos salários e pensei que queria evoluir, não regredir. Mas pensei: vou ser feliz. Reduzi meu salário e fui a todas as favelas perto da minha casa para entender como fazer um banco dentro da comunidade traz autoestima”
Leandro Dias, CEO da akinTec
O programa piloto, no entanto, durou pouco, e foi descontinuado pela instituição financeira. Depois de dar aulas de pós-graduação, coordenar cursos e trabalhar com consultorias globais, ele viu a chance de começar seu próprio negócio. Foi assim que surgiu a akinTec, um app que funciona como hub digital de serviços, delivery e sistema de pagamentos, focado nas necessidades e condições de brasileiros que vivem em comunidades.
“A periferia construiu um dialeto próprio, e cada região do Brasil fala o seu dialeto específico. Quer falar com a comunidade? Fale na língua dela. É um banco voltado para você, e essa é a nossa perspectiva e motivação para tudo isso aqui dar certo. É a função social do banco que precisa ser resgatada”.
Depois de 12 programas de aceleração, Leandro acredita que fazer parte do Semente Preta representa uma virada na história do app e considera que, agora sim, entraram para o jogo de verdade.
“Esse é um passo representativo não para a história do Leandro ou da akinTec, mas para a comunidade negra do mundo. Um banco que se tornou sócio de uma startup com fundadores negros: esse é o tipo de representação que a gente quer que cresça. Isso é tudo pra gente”.
AfroSaúde
No fim de 2021, uma imagem viralizou nas redes. Era uma ilustração, feita pelo nigeriano Chidiebere Ibe, da anatomia de uma mulher grávida, como as que são usadas em cursos de medicina pelo mundo. Mas com uma diferença: tanto a mãe quanto o bebê retratados na imagem eram negros. A falta de representatividade das pessoas negras na área da saúde, notada pelo estudante nigeriano, é uma realidade também no Brasil, que a health tech baiana AfroSaúde trabalha para mudar.
Formado em Odontologia, Arthur Lima recebeu um pedido de uma amiga que, na época, considerou inusitado. Ela queria a indicação de um dentista negro. Mais surpreendente ainda foi perceber que Arthur não conhecia um profissional sequer em sua área que fosse negro. Chegando em casa, dividiu a questão com o companheiro, Igor Leo Rocha, que também se deu conta de que nunca havia sido atendido por um profissional de saúde negro.
A surpresa virou incômodo, e, durante o mestrado em saúde mental e do trabalhador na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Arthur desenvolveu a ideia do que seria a health tech AfroSaúde. Igor, jornalista com carreira em comunicação corporativa, usou da sua experiência para dar um rumo estratégico ao negócio.
“Quando você pergunta para as pessoas por quantos profissionais de saúde negros elas já foram atendidas na vida, geralmente aconteceu uma vez só, nunca é algo corriqueiro. Comecei a enxergar a possibilidade de um negócio, uma plataforma para conectar esses profissionais ao seu público”.
Igor Leo Rocha, CEO da AfroSaúde
Mas eles ainda se perguntavam como ganhariam dinheiro com isso. Logo a dupla de companheiros e sócios entendeu que, tão importante quanto pensar na questão da saúde, era desenvolver um plano para a startup. As contas nas redes sociais foram criadas e rapidamente começaram a receber muitas curtidas. Arthur e Igor foram eleitos pela revista Forbes como alguns dos profissionais negros que estavam democratizando a saúde no Brasil.
“Nossa revolução é criar soluções para problemas específicos e utilizar a tecnologia como ferramenta para isso. Hoje nós conseguimos conectar pessoas até de outros estados, e profissionais que atendem exclusivamente pela AfroSaúde porque têm um retorno melhor. O nichado vende, é possível crescer e resolver um problema social grande.”
Arthur Lima, CEO da AfroSaúde
Com o primeiro capital semente conseguiram chegar ao seu primeiro produto viável (MVP), e o segundo aporte permitiu que incrementassem a plataforma para fazer o caminho completo, desde a busca de profissionais até a marcação de consulta. O desafio, agora, é escalar o negócio.
“O investimento [do Semente Preta] vai ajudar muito nesse momento que a gente precisa contratar pessoas relacionadas ao nosso core business, que é tecnologia e saúde. A gente quer ter nossa equipe disponível. E vai ajudar ajudar a contratar principalmente pessoas que possam nos ajudar na parte comercial.”
Igor Leo Rocha, CEO da AfroSaúde
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