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Política e mercado finan...

Política e mercado financeiro no blog Nubank

Uma fala de alguma autoridade da política ou uma mudança de regra aprovada no Congresso podem fazer a Bolsa cair ou subir. Entenda por que isso acontece.



Política e mercado financeiro caminham juntos e afetam a sua vida financeira. Entenda como é essa relação e por que o mercado é tão sensível à política.

Já reparou que toda vez que estoura uma bomba na política, a economia reage – e muito? Pode até não parecer, mas política e mercado financeiro andam juntos e afetam a sua vida financeira e os rendimentos daquele seu dinheiro que está em algum investimento

Esses efeitos são ainda mais intensos em anos de eleição. É nesse período que a economia ganha ainda mais atenção. Mas política e mercado financeiro andam juntos sempre, todos os anos e todos os dias, não importa o governo ou partido. E como é essa relação? Por que o mercado financeiro é tão sensível às movimentações políticas? E por que você precisa saber disso, mesmo não tendo milhões investidos?  

Para começar: quem é esse tal mercado financeiro mesmo? 

Para entender por que a política e mercado financeiro andam lado a lado, você precisa saber o que é esse mercado. Você já deve ter visto ou lido frases como “o mercado está de mau humor”, “o mercado reagiu bem”… Até parece que ele é uma pessoa. Ele não é, mas é formado por milhões de pessoas que compram e vendem todo tipo de ativo financeiro – de títulos públicos a produtos agrícolas. 

Na prática, essas pessoas e empresas, com muito ou pouco dinheiro, emprestam recursos a alguma empresa ou governo, e recebem juros de volta. Então, quando você ouvir falar do tal do mercado, já pensa que é sobre essas pessoas que estão na Bolsa de Valores, no mercado de câmbio e no de crédito. 

Expectativas e comportamentos

À primeira vista, parece que esse mercado funciona com base em regras bem lógicas e calculadas, mas não é bem assim. 

Todas essas pessoas que fazem parte desse mercado têm suas expectativas em relação ao andamento da economia. É por isso que o mercado financeiro se movimenta muito em torno de comportamentos, e esses comportamentos mudam de acordo com o ambiente. 

Imagine uma rua sem iluminação adequada. Você andaria por ela, sozinho, à noite? Dificilmente, não é? O mercado é você diante dessa rua. Ele espera que a luz esteja acesa na máxima potência para que ele consiga enxergar as pedras no meio do caminho e andar com mais confiança. 

É disso que o mercado financeiro se alimenta: de previsibilidade e confiança. Para ficar mais tranquilo e continuar investindo, ele precisa enxergar o caminho. 

Política e mercado financeiro: o que elas têm a ver ? 

A política ajuda a acender ou apagar a luz da rua. Quando a política  está seguindo seu curso, sem surpresas, garante um ambiente mais previsível. Assim, os investidores conseguem fazer planos e investir mais, porque ficam mais confiantes. Nessa situação, o mercado sobe. 

Mas quando a política provoca sustos a todo momento e muda regras no meio do caminho, o mercado fica mais receoso, coloca o dinheiro em lugares mais seguros ou começa a vender o que tem. Neste caso, ele cai. 

É por isso que o mercado olha para a política: para saber onde ele está, até onde pode ir e o que pode acontecer no meio do caminho, como explica a professora Tatiane de Menezes, do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Pernambuco. 

“Imagine que, dada as regras do momento, o investidor decida colocar o seu dinheiro no mercado de soja. O governo então muda a legislação e o mercado europeu decide que não quer mais a soja do Brasil. Essa mudança de regra tem um efeito direto na vida do investidor e ele será muito prejudicado. Então, é muito importante que as regras sejam mantidas para que as pessoas se sintam seguras para fazerem investimentos”, explica.

Todo mundo encara a política como o mercado financeiro? 

Não exatamente. O mercado financeiro tem as suas próprias regras e é formado por pessoas físicas e jurídicas que investem e que esperam um retorno desse investimento. Esse retorno é o lucro. Na economia real, aquela que afeta seus boletos do mês, não existe uma expectativa de lucro a todo momento. 

Por isso, a visão do mercado financeiro de como conduzir a economia não reflete, necessariamente, a economia como um todo, principalmente aquela que impacta o seu dia a dia, conforme explica a professora Simone Deos, do Instituto de Economia da Unicamp.    

“O mercado financeiro é mais atento do que a maior parte da sociedade acerca do papel decisivo da política na economia. Então, enquanto grande parte dos agentes é inconsciente disso, ou não toma isso como algo super importante, o mercado financeiro tem completa consciência. Nas últimas décadas, a mídia é excessivamente influenciada pelo que o mercado financeiro diz sobre a economia e o seu tipo de visão sobre a política econômica. Então, é como se o mercado financeiro refletisse a verdade sobre a economia, e isso é uma complicação”, explica.

Nem toda decisão econômica é focada em lucro

A professora Simone diz que é uma complicação porque não tem como ocorrer lucro em toda decisão econômica. Políticas de benefícios sociais, por exemplo, têm uma função específica, que está ligada à redução de problemas sociais e não ao lucro. Ou seja, nem tudo na economia precisa seguir as regras do mercado financeiro.

“O mercado financeiro diz que mudanças de regra geram muita instabilidade e dificuldade de previsão. Não há como negar. Mudanças de regra frequentes, de fato, geram muita instabilidade. Em princípio não é bom para ninguém. Mas o que me parece de fato é que o mercado financeiro gostaria que a economia fosse conduzida de acordo com o ‘manual do mercado financeiro’, de acordo com aquilo que ele acha que vai ser melhor para ele, em termos de lucratividade”, afirma.  

Mas para quem o mercado olha na política?

Claro que não é para tudo o que acontece na política que o mercado financeiro olha. Basicamente a atenção de quem atua nesse mercado vai para a política econômica, que é um conjunto de ações com três frentes: a política fiscal, a monetária e a cambial. 

A política fiscal tem como objetivo manter o equilíbrio entre as receitas e as despesas públicas. Já a política monetária busca, principalmente, regular a quantidade de moeda que circula na economia, com o objetivo de controlar a inflação. E a política cambial administra a relação entre o dinheiro do país e o dinheiro de outros países – ou seja, as taxas de câmbio

Essas três frentes, que formam a política econômica, precisam estar organizadas e alinhadas para a economia funcionar. É como morar em uma casa cheia de gente. Nessa situação, para sua casa não virar um caos, tem sempre uma pessoa responsável pela limpeza, outra pelas compras de supermercado, outra pela organização dos boletos e por aí vai. Um país também precisa desse tipo de organização. 

E o mercado financeiro fica de olho exatamente naquelas pessoas e instituições que têm tarefas relacionadas ao dinheiro e à política econômica. É o caso do Ministério da Economia, Banco Central e Congresso Nacional. 

Ministro da economia fica no centro das atenções

Os movimentos do Ministério da Economia estão sempre no foco do mercado. Isso acontece porque ele é o responsável pelo orçamento do governo federal. O ministro da economia é a pessoa que lidera tudo isso. Embora o trabalho do ministro seja baseado em regras econômicas, a escolha de quem assumirá esse cargo é do presidente da República. 

É por isso que as decisões do Ministério da Economia caminham juntas com a política. Historicamente, os indicados a essa posição têm visões de como cuidar do dinheiro público parecidas com as visões e valores dos presidentes que os indicaram para o cargo.

Ou seja, decisões dessa pasta não são completamente isentas e estritamente técnicas. E, segundo a professora Tatiane, da Federal de Pernambuco, realmente não tem como separar as duas coisas. 

“Embora o economista mostre e defina qual o orçamento deve ser gasto, e até sugira qual é a melhor forma de alocá-lo, a decisão de como este deve ser empregado, ou quais os setores que vão ser privilegiados, é sempre uma decisão política”, afirma. 

Indicação do ministro já faz mercado reagir

É por isso que, já no anúncio do indicado, há reações do mercado.

Imagine que a empresa onde você trabalha contrata um novo chefe para a sua área. Ao saber o nome da pessoa, você e seus colegas vão fazer buscas na internet e descobrem que esse gestor foi uma ótima liderança nas outras empresas. Com essa informação, você tende a ficar mais animado.

Agora imagine que você descobre que essa pessoa não é tão legal assim… a ansiedade começa a disparar e a tensão toma conta da sua área antes mesmo de essa pessoa entrar na empresa.

Acontece algo parecido com o mercado financeiro. Dependendo de quem será o responsável pelas contas do país, esse mercado pode ficar mais tranquilo ou mais tenso.

Como a política pode derrubar ou acalmar o mercado financeiro?

Lembra que o mercado financeiro se alimenta de previsibilidade e confiança? Muito do que acontece no Ministério da Economia, Banco Central e no Congresso Nacional que altere, em alguma medida, as políticas fiscal, monetária e cambial pode mexer com essa confiança.

Para o mercado financeiro, um ambiente previsível é aquele em que dá para saber o que pode acontecer no curto e médio prazo, por exemplo. Quando alguma decisão do Ministério da Economia pega o mercado de surpresa, ela quebra essa previsibilidade e gera desconfiança.

Decisões ligadas ao cumprimento de regras econômicas são as que mais derrubam o mercado financeiro. Qualquer projeto ou medida que caminhe contra essas regras, que queira mudá-las ou contorná-las de alguma forma, faz o mercado sacudir. Isso porque essas mudanças não previstas quebram a previsibilidade e sinalizam instabilidade – que é tudo o que o mercado não quer. 

E que regras são essas? 

Uma delas é a Lei da Responsabilidade Fiscal. Ela foi aprovada em 2000, faz parte da Constituição e estabelece a melhor forma de usar os recursos públicos. Na prática, essa lei cria mecanismos para limitar os gastos e as dívidas, e obriga a administração pública a estabelecer metas – e a cumpri-las. 

O teto de gastos é outro mecanismo muito olhado pelo mercado financeiro. Como o nome sugere, o teto é um limite de gastos para a União. Ele foi instituído em 2016 e estabelece que os gastos do governo até 2036 devem crescer de acordo com a inflação de um ano para outro.

O Orçamento do governo federal é outra coisa que mexe com o mercado. Ele estabelece as metas e prioridades para o ano seguinte. Não cumprir o Orçamento pode gerar algumas consequências que afetam não apenas os investidores, segundo a professora Tatiane, da Federal de Pernambuco.

“Se o governo começa a gastar mais do que o previsto, isso vai gerar, necessariamente, uma pressão sob a demanda e um aumento generalizado no nível geral de preços, ou seja, aumento da inflação, elevação da taxa de juros, redução dos investimentos privados e desaceleração da economia”, afirma.

Contas públicas precisam ser saudáveis

Todos os gastos, possíveis cortes, dívidas e investimentos que o governo pretende fazer no próximo ano estão definidos na Lei Orçamentária. E essas contas precisam estar saudáveis. 

Segundo a professora Tatiane, as decisões políticas que mais afetam a confiança dos investidores são aquelas relacionadas aos aumentos de gastos sem que seja indicado a fonte de recursos que vai bancar esses aumentos. O mercado financeiro também não gosta muito de mudanças tributárias de última hora.

“Por exemplo: eu tenho uma fábrica de móveis e faço uma previsão de investimento com base na demanda histórica da minha empresa. De uma hora para a outra, o governo decide dar uma isenção fiscal para empresas automobilísticas. Quando isso acontece, as pessoas que estavam planejando comprar móveis para as suas casas ou escritórios resolvem adiar esses gastos e utilizam o dinheiro para comprar carro, que ficou mais barato. Assim, a demanda por móveis cai e posso ter prejuízo. Essa imprevisibilidade fiscal é muito nociva à economia”, afirma a professora.

O que o mercado espera é que regras sejam cumpridas e que mudanças não aconteçam do nada, para que ele consiga se organizar e fazer planos. E é mais fácil fazer planos em um ambiente com as contas organizadas. Mas não é só isso. Há outras coisas que deixam o mercado mais sensível à política, como falas de autoridades.

Por que falas de autoridades afetam o mercado financeiro?

Como você se sente depois de receber elogios? Difícil se sentir mal, não é? Por outro lado, quem nunca se sentiu para baixo ou com raiva depois de receber uma crítica negativa no trabalho, depois de uma bronca dos pais ou de uma nota baixa na faculdade? 

Pois é. Não são apenas medidas, projetos e leis que mexem com o mercado. As palavras também. Elas têm poder, e isso está longe de ser conversa fiada ou papo de autoajuda. 

No início de maio, o presidente do Fed, o Banco Central dos Estados Unidos, Jerome Powell, descartou um aumento mais intenso na taxa de juros do país. Essa fala mexeu com as Bolsas de todo o mundo. Como juros altos tendem a tirar dinheiro da Bolsa, essa fala fez o mercado ficar mais calmo e subir.

Falas de autoridades, como de presidentes de bancos centrais, de ministros da economia e até de presidentes da república podem afetar a percepção de risco e a confiança dos investidores.  

Isso porque falas demonstram intenções. Intenção de não pagar uma dívida, de não cumprir uma regra, de mudar uma lei importante, de ir contra aquilo que foi prometido. Mesmo quando muitas dessas falas não viram atos, somente a intenção já causa turbulência. É que fica aquele “E SE” no ar. “E SE ele não pagar mesmo a dívida?”… Essa dúvida gera instabilidade e os mercados reagem: seja com a Bolsa caindo ou o dólar subindo, por exemplo.

Não tenho milhões investidos, preciso prestar atenção nisso também? 

Se você é um pequeno investidor, é importante ficar de olho em decisões como a taxa de juros básica da economia, a Selic, e medidas que podem, por exemplo, alterar alguma política econômica importante que impactem aquele seu dinheirinho que está investido. 

Mas ações pontuais e falas de autoridades tendem a afetar o mercado financeiro no curto prazo. Ou seja, mexem com aquele investidor que compra e vende ativos num pequeno período de tempo, e com grandes investidores.

Mas você tendo ou não algum investimento, acompanhar os movimentos da política e o que falam as autoridades faz parte do seu papel de cidadão, que é de fiscalizar e cobrar os poderes, como afirma a professora Simone, da Unicamp. 

“Eu acho que seria muito importante que todos os segmentos da sociedade tivessem essa consciência de que a política nos afeta de uma forma muito importante. Então, quando as pessoas dizem ‘ah, eu não gosto de política’, elas estão relegando a um segundo plano algo que é muito central. A política econômica é, em última instância, responsável pelos rumos do crescimento da economia, pela qualidade de geração de empregos, por exemplo”, explica.

É ficando de olho que você ajuda a escolher quem vai criar um bom ambiente econômico. Um ambiente melhor não é só bom para quem investe, mas para todo mundo.

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