É muito fácil se confundir com a sopa de letrinhas do mundo dos investimentos. CRI e CRA são apenas dois ingredientes dessa receita. A boa notícia é que de difícil eles não tem nada. Além disso, eles são queridinhos por muitos investidores devido à isenção de Imposto de Renda.
Ao investir, é essencial conhecer a lógica de funcionamento de cada um dos ativos financeiros para evitar surpresas desagradáveis ao longo da jornada.
No caso de CRI e CRA, é ainda mais importante ficar de olho nas características dos emissores, rating da operação, ou seja, na classificação risco desse investimento, e na estrutura de garantias vinculadas ao produto – como imóveis e safras agrícolas, por exemplo.
Confira, abaixo, tudo o que você precisa saber sobre CRI e CRA.
O que é CRI e CRA?
CRI e CRA são títulos de renda fixa de crédito privado. As siglas significam Certificado de Recebíveis Imobiliários e Certificado de Recebíveis do Agronegócio, respectivamente. Os dois são muito parecidos, quase irmãos gêmeos.
Eles têm esses nomes porque todo o dinheiro investido nesses títulos é usado para financiar o mercado imobiliário e o setor do agronegócio.
Você também pode encontrar por aí a denominação “Certificado de Recebíveis Agrícolas” para se referir ao CRA. Mas eles são os mesmos investimentos, trata-se apenas de um sinônimo.
Como os setores imobiliário e do agronegócio são importantes para o país, os lucros desses ativos foram isentados de Imposto de Renda.
Eles não possuem liquidez diária. Em outras palavras, o resgate do dinheiro aplicado pode ser feito só no vencimento.
Por estarem atrelados a extensos projetos, CRI e CRA são investimentos de médio e longo prazos.
Quem emite esses investimentos?
Os CRIs e CRAs são emitidos exclusivamente por uma companhia securitizadora – que não é uma instituição financeira.
A securitizadora é uma empresa – caracterizada como Sociedade Anônima (S.A) – responsável por transformar uma dívida em um título negociável no mercado, e disponibilizá-lo aos investidores por meio da emissão de CRI e CRA, por exemplo.
Eles são similares a outros dois investimentos de renda fixa: LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e LCI (Letra de Crédito Imobiliário). A diferença é que as LCAs e as LCIs são emitidas por bancos, enquanto os CRIs e os CRAs são emitidos por companhias securitizadoras.
Como CRI e CRA funcionam na prática?
Imagine uma pessoa que acabou de comprar um imóvel na planta. Ela foi a uma construtora, fez um financiamento de 20 anos, por exemplo, e vai pagar as prestações ao longo da vida.
Antes disso, a construtora responsável pelos imóveis, para construí-los, precisou de uma certa grana para poder fazer a obra. Como muitos moradores financiam o apartamento ou a casa por muitos anos, para levantar recursos o mais rápido possível a construtora repassou a dívida para uma securitizadora, que por sua vez emitiu um CRI.
Dessa forma, com o dinheiro dos investidores que aplicarão nesse CRI, a construtora conseguiu pegar um valor à vista para realizar a construção dos imóveis.
Em outras palavras, investir em CRI e CRA é como emprestar dinheiro para incentivar os mercados imobiliário ou do agronegócio e, no vencimento do título, receber o dinheiro de volta corrigido por uma taxa de juros.
Para quem CRI e CRA são indicados?
De forma resumida, investir em renda fixa é emprestar dinheiro a uma instituição por um determinado prazo e receber juros em troca.
Então, para quem busca um maior retorno, mas sem abrir mão da previsibilidade da renda fixa, CRIs e CRAs podem ser uma boa opção. O investimento mínimo costuma ser a partir de R$ 1 mil.
Investidores com perfis moderados e experientes têm uma tendência maior para investir em CRI e CRA, além dos investidores qualificados, que têm acesso a produtos restritos.
Investidor qualificado não é um elogio para quem investe bem. Trata-se de uma classificação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para pessoas com um amplo conhecimento sobre investimentos financeiros (e certificações que comprovem isso) ou que tenham uma quantia elevada investida – maior ou igual a R$ 1 milhão. Saiba mais logo abaixo.
Investidor qualificado: o que é e como se tornar um
Tem risco em investir em CRI e CRA?
Por mais baixo que seja, todo investimento tem risco. Portanto, antes de tomar qualquer decisão, é essencial pesquisar sobre as vantagens e desvantagens dos produtos e saber se eles estão adequados ao seu perfil de investidor.
Os principais riscos dos CRIs e CRAs são:
Risco de crédito
O principal risco de investir nesses ativos é o risco de crédito, ou seja, risco de calote pelo emissor do título. Isso acontece porque CRIs e CRAs não contam com a garantia do FGC.
Por outro lado, como uma forma de reduzir esse risco, existe um regime fiduciário. Isso quer dizer que se a companhia securitizadora falir, o pagamento para os investidores não será afetado, pois os recebíveis ficam separados do patrimônio da securitizadora.
Veja um exemplo de risco envolvendo o CRI: se uma pessoa deixa de pagar as parcelas do imóvel que comprou (que é uma parte do CRI), todo o resto é prejudicado. Por essa razão, as construtoras costumam dar como garantia os seus próprios imóveis. No caso dos CRAs, as produções de soja e milho, por exemplo, são usadas como garantia.
Risco de liquidez
É possível encontrar CRI e CRA para investir no mercado secundário – ambiente on-line da corretora de valores em que investidores negociam, ou seja, compram e vendem ativos financeiros diretamente de outros investidores.
O que vale aqui é a lei da oferta e da procura. Porém, não é fácil encontrar compradores para os títulos de CRIs e CRAs. Um dos motivos é o fato de só poder resgatá-los no vencimento. Então, se você quiser vender o seu título, vai correr risco de liquidez, ou seja, de não encontrar um comprador para ele.
Classificação de risco
Ao investir em CRI e CRA, é bom ter atenção ao rating das agências de avaliação de risco e à reputação das empresas que emitem esses títulos. Basicamente, o rating ou classificação de risco é uma nota de crédito que é dada, neste caso, a um título financeiro ou operação financeira para medir o risco de crédito.
As agências trabalham com classificações semelhantes. Em todos os casos, a classificação é feita do menor risco para o maior risco. Quanto melhor for o rating, maior segurança o investimento proporcionará ao investidor.
Veja aqui a classificação das três maiores agências de risco do mundo: Standard & Poor’s (S&P), Moody’s e Fitch Ratings.
Vale lembrar que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), entidade que regula e fiscaliza o mercado financeiro, obriga que todas as ofertas públicas de investimento para o público em geral tenham ao menos um relatório de agência classificadora de risco.
CRI e CRA não têm garantia do FGC
Investimentos em CRI e CRA não têm garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).
O FGC funciona como uma espécie de “seguro” do investidor que entra em ação em caso de falência do emissor do título, por exemplo.
O valor total coberto pelo FGC é de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ e por instituição financeira, com um limite de R$ 1 milhão por CPF renovado a cada período de quatro anos.
Como funciona o Imposto de Renda para CRI e CRA?
CRI e CRA não têm cobrança de Imposto de Renda sobre os lucros. Mas isso não significa que você não precisa declará-los. Pelo contrário, é necessário informar saldos e rendimentos à Receita Federal, por meio da declaração anual de IR.
Eles também são isentos de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) após 30 dias. O IOF é cobrado quando o investidor resgata um título antes do prazo de 30 dias.
Como declarar investimentos de renda fixa no Imposto de Renda?
Quanto rendem CRI e CRA?
Geralmente, os rendimentos (juros) de CRI e CRA são pagos semestralmente ou anualmente. O valor principal só é pago no vencimento do título.
Por serem investimentos de renda fixa, eles já dão uma previsibilidade de retorno antes mesmo da aplicação.
Falando em rentabilidade, CRI e CRA podem ter três tipos de remuneração: prefixada, pós-fixada ou híbrida. Confira:
Prefixada: remuneração previamente fixada. Faça chuva ou faça sol, você vai ganhar a rentabilidade combinada levando até o vencimento do título. É indicada para cenários em que a expectativa é de queda da taxa de juros. Exemplo: CRA 8% ao ano.
Pós-fixada: aqui você só saberá quanto vai ganhar lá no fim do investimento, na hora do resgate. A rentabilidade é atrelada a um indexador de referência, como por exemplo o CDI – que rende algo próximo à taxa Selic. Não se sabe quanto vai ganhar, mas se sabe o que vai ganhar. É indicada para cenários em que a expectativa é de subida da taxa de juros. Exemplo: CRI 100% do CDI.
Híbrida (mista): é uma mistura que combina características da prefixada e da pós-fixada. Exemplo: CRI IPCA + 5%. Isso significa que o título vai render inflação mais juros de 5% ao ano. Uma parte da rentabilidade é definida no momento da aplicação e a outra é atrelada a um índice econômico, como o IPCA, CDI ou IGP-M.
Veja um resumo sobre CRI e CRA
Na tabela abaixo, você pode observar de forma resumida as principais características dos investimentos:
Rentabilidade | Prefixada, pós-fixada e híbrida |
FGC | Não tem |
Emissor | Companhia Securitizadora |
Tributação | Lucro isentos de IR para pessoas físicas |
Prazo | Médio e longo prazos |
Liquidez | Baixa (mercado secundário) |
Resgate | no vencimento |
Agência de crédito | obrigatória quando não for para investidor qualificado |
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