Em setembro de 2020, o Banco Central (BC) lançou oficialmente a nova nota de R$200. A iniciativa gerou tanto críticas quanto elogios, mas, em meio às opiniões diversas, uma dúvida comum surgiu: para fazer as notas de R$200, será necessário imprimir dinheiro. Mas imprimir dinheiro não aumenta a inflação?
A resposta é sim e não: sim, imprimir dinheiro pode ser danoso (e, em alguns casos, desastroso) para a inflação. Mas não necessariamente – em uma situação controlada, a impressão de novas cédulas é normal e acontece o tempo todo.
O que significa imprimir dinheiro?
Parte das responsabilidades do Banco Central é gerenciar o meio circulante – ou, em outras palavras, garantir que exista a quantidade adequada de dinheiro físico para as necessidades da população. E uma das formas de fazer isso é imprimindo dinheiro.
Quem autoriza a emissão de novas cédulas no Brasil é o Conselho Monetário Nacional (CMN). O número de notas impressas é calculado de acordo com uma série de fatores, como a adequação ao ritmo da economia e o histórico de anos anteriores – dezembro, por exemplo, costuma registrar o pico de dinheiro físico circulando, por causa dos pagamentos e compras de fim de ano.
A partir da deliberação do Conselho Monetário Nacional, o Banco Central encomenda a impressão ao fabricante – no Brasil, o órgão responsável por esse processo é a Casa da Moeda.
Cédulas são impressas, mas também são destruídas
Todos os anos, muitas notas de real são descartadas: em 2019, foram 1,45 bilhão de cédulas destruídas – pouco menos que o número de novas notas colocado em circulação (1,54 bilhão).
O Banco Central tem certos padrões de qualidade e, quando uma nota não os atinge mais, ela deve ser descartada – é o que acontece com cédulas manchadas, desfiguradas, gastas, queimadas, rasgadas ou danificadas de alguma forma.
Um equipamento específico é utilizado para destruir as notas, que viram um bloco compacto de fragmentos. Uma parte desses fragmentos é reaproveitada no processo de produção do cimento. Segundo o BC, a meta é adotar essa solução de reciclagem em 100% das notas destruídas até 2023.
Impressão de dinheiro e inflação
OK, mas e quando imprimir dinheiro é, sim, danoso à inflação?
É normal que a quantidade de dinheiro físico em um país cresça gradualmente – afinal, a produção e os gastos também crescem em situações normais. O que não pode acontecer é um aumento desenfreado e não planejado.
A consequência mais comum para a impressão não responsável de dinheiro é a hiperinflação.
Para entender por que isso acontece, basta lembrar da lógica da oferta e demanda: se o mercado é inundado com mais papel moeda, a oferta aumenta e o valor da moeda cai – ou seja, o dinheiro passa a valer menos.
Essa situação gera uma bola de neve: ao ver que o país está imprimindo dinheiro de forma descontrolada, os investidores perdem a confiança, o que gera a chamada “fuga de dólares”.
Para tentar conter essa situação, os juros vão aumentando e a população vai perdendo poder de compra – afinal, os produtos vão ficando cada vez mais caros e o dinheiro, tendo cada vez menos valor.
Tudo isso vai gerando um círculo vicioso que alimenta a crise econômica – e acaba acarretando em desemprego, endividamento e empobrecimento do país como um todo.
E a nota de R$200 nisso tudo?
Ao comunicar a criação da nota de R$200, o Banco Central explicou que o Brasil vive atualmente uma situação de entesouramento – em outras palavras, pessoas guardando mais dinheiro físico do que o comum.
No final de março, a quantidade de dinheiro em circulação era de aproximadamente R$260 bilhões. A partir daquele momento, começou a subir rapidamente e chegou a R$ 350 bilhões em 17 de agosto.
A principal hipótese para isso é a pandemia do novo coronavírus: em uma situação de crise, as pessoas estão buscando guardar o que podem.
Como ainda não é possível saber por quanto tempo os efeitos da pandemia vão persistir, o BC decidiu lançar a nota de R$200: esse projeto já existia, mas foi acelerado pelo contexto atual.
A ideia foi tanto ajustar a quantidade de dinheiro circulando quanto onerar menos todo o processo de impressão, transporte e distribuição das cédulas – afinal, a impressão de uma nota de valor mais alto substitui a impressão de outras notas de valor menor.
E, paradoxalmente, produzir dinheiro custa… dinheiro.
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