(Este post foi originalmente publicado em inglês no blog de Design do Nubank em 16 de maio de 2017).
Nos últimos anos, o Nubank passou de uma pequena startup para uma empresa grande e bastante complexa. Esse crescimento influenciou as dinâmicas de diversos times – e os designers não são exceção.
Para nos ajudar durante essa transformação acelerada, começamos a explorar quais seriam as melhores maneiras de definir o que, na nossa visão, era o design dentro do Nubank.
Uma das primeiras medidas foi, justamente, reunir o time e escrever o que seriam os princípios de design.
Inspiração
A ideia de ter princípios de design não é nova. (O designer industrial alemão) Dieter Rams, por exemplo, é famoso por ter formulado, nos anos 1970, os 10 princípios para o bom design. Esse guia foi útil não apenas para o trabalho de Rams na Braun, mas serviu também como ferramenta de ensino e como uma espécie de manifesto pessoal sobre o que seria um bom design de produto.
Para quem trabalha na área, nem é preciso dizer o quanto esse material se tornou icônico. A lista é tão atemporal que até hoje guia designers que constroem os mais variados tipos de produtos em todo o mundo – sejam eles físicos ou digitais.
Mais recentemente, o time de design do Facebook publicou um guia com sete princípios. As semelhanças e os contrastes entre eles e os princípios de Rams ressaltam exatamente o ponto desse exercício: a clareza de uma lista concisa permite que tanto funcionários como pessoas de fora da empresa entendam as crenças e os desafios dos designers.
Para Rams, o desafio era garantir que os bens oferecidos por seus clientes seguissem certo padrão de harmonia, ordem e economia na produção. Para o Facebook, a lista funciona como base do que um aplicativo global, com milhões de usuários, realmente precisa: acessibilidade, velocidade, consistência e capacidade de se adaptar a culturas e tecnologias locais.
Os exemplos não param por aí: Google, Asana, Microsoft e até mesmo o Governo do Reino Unido investiram em guias para manter o padrão de design. Ao olhar para essas e outras listas, percebemos que o próprio processo de discutir e escrever os princípios de design já teria um grande valor por si só. Por isso, decidimos que valia a pena tentar.
Os objetivos por trás da decisão de escrever nossos princípios de design
Alguns motivos nos levaram a acreditar que seria uma boa ideia escrever uma lista de princípios.
Alinhar nosso trabalho com os valores da empresa
Os valores da empresa são uma ferramenta importante para garantir consistência – no entanto, eles nem sempre se traduzem de forma muito clara no design. Ter uma lista separada, mas alinhada com esses valores, permite que a gente não perca de vista alguns pontos importantes na hora de tomar decisões técnicas consistentes.
Criar uma visão em em comum no time
A lista ajuda o time a ter uma base comum do que nós acreditamos ser bom design para o Nubank em termos de produto – independentemente de opiniões individuais, habilidades, interesses ou referências. Além disso, colocar uma ideia por escrito em grupo é um exercício valioso de construção de time.
Comunicação
Assim como Rams, nós sentíamos que era preciso comunicar a outros times, de não-designers, o que é design, como ele pode ajudar a empresa e como julgar se uma decisão vai comprometer o design do produto. Uma lista de princípios é, em muitos aspectos, tão benéfica quanto a criação de personas: ela se torna um material que pode ser facilmente usado como referência em reuniões e discussões.
Empoderamento
Costumamos tratar nossos princípios como “linhas a não serem cruzadas”. Com eles, temos lembretes constantes de que podemos questionar demandas se elas de alguma forma prejudicarem a empresa ou os valores do nosso time.
Críticas
Uma lista de princípios nos ajuda a ter argumentos mais sólidos e lógicos na hora de dar feedback para um colega – argumentos não somente baseados em opinião pessoal. A lista também serve como um guia para garantir a integridade de um projeto, tanto durante a construção como quando ele é finalizado.
Dado todo esse contexto, vamos à lista:
Princípios de Design do Nubank
1. Comece cedo (Start early)
Comece o design o quanto antes e entenda por que isso é importante. Estar envolvido em decisões iniciais e estratégicas permite mais experimentação e inovação.
2. Co-criação (Co-create)
Encontre formas de colaborar mais e com mais frequência. Entenda a perspectiva dos clientes e de seus colegas a respeito dos problemas e mantenha interações frequentes.
3. Vá além (go beyond)
Descubra o inesperado. Desafie a si mesmo e o produto. Tente enxergar além do problema proposto – a resposta mais óbvia pode não ser a ideal. Aprenda o máximo possível com cada interação e busque sempre validação e formas de melhorar.
4. Contexto
É preciso sempre levar em conta o contexto no qual os clientes irão usar os nossos produtos e serviços. É importante lembrar que as pessoas se adaptam ao ambiente e à tecnologia que elas têm ao seu redor.
5. Humanize
Nós criamos produtos para milhões de indivíduos – todos únicos e diferentes entre si. Tenha empatia pelas dores do usuário, pela sua demografia e cultura; entenda suas necessidades e emoções.
Próximos passos
Como fazer com que nossos times se mantenham atentos e em linha com os princípios de design? Afinal, a lista deveria estar constantemente em nossas mentes, e não ficar esquecida em alguma gaveta.
Uma das pequenas iniciativas que desenvolvemos foi criar um bot no Slack que nos lembra dos princípios todos os dias.
Antes de terminar este post, no entanto, é preciso acrescentar algo muito importante: esses princípios vão estar em constante evolução – assim como nosso time e o Nubank. O próprio Dieter Rams levou pelo menos uma década para criar os dez princípios da forma como os conhecemos hoje.
“Princípios de design são uma forma de orientar e entender. Eles não são amarras. O bom design está em constante estado de desenvolvimento – assim como a tecnologia e a cultura — Dieter Rams”
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